quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Os primeiros passos de um novo desafio em nossa caminhada.

Iniciamos o segundo semestre de 2010 com um novo desafio: espetáculo musical para crianças.
Pode-se pensar que é muito difícil e complicado de trabalhar o teatro para crianças. E é!


Iniciamos nosso trabalho com buscas internas, do nosso passado como crianças e o resgate do que nos faz sorrir e chorar. Neste inicio de pesquisa, o ator deve se permitir a liberdade pessoal da descoberta da “criança” para experimentar e mostrar que tem uma responsabilidade para com a comunicação teatral, assim contribuindo honesta e verdadeiramente aos personagens, relacionando-se livremente com quem o cerca.

No treinamento os atores merecem receber liberdade, respeito e responsabilidade. A diferença desta pesquisa está na maneira de apresentar as perguntas e introdução de exercícios, admitindo que há níveis diferentes de experiências vivenciais. Ao trabalhar com o teatro para crianças, o diretor precisa mudar seu conceito sobre autoridade. Para isso, é preciso estar livre para fazer os atores entender que são parte do mundo às sua volta, faze-los ter um contato direto com o ambiente e encaminhar seus atores para o mundo das brincadeiras e histórias. Muitas pesquisas em teatro para criança parecem ter uma necessidade de um comentário mais didatico ou de uma interpretação favorável de alguma forma, mas isso faz com que a aprovação/desaprovação se torne um regulador de esforços e acabamos fazendo tudo pensando em caricaturas. Para mim, isso gera uma perda de experiência pessoal. Por isso, desejando unidade de trabalho, a linguagem e as atitudes durante o processo de criação de personagem devem ser constantemente repensadas. Ao avaliar o desempenho de cada cena, o diretor deve cuidar para não impor suas idéias ou palavras aos atores, para não limitar a criatividade e a experiência destes. É preciso criar um ambiente de igualdade entre todos. Apesar de parecer mais difícil, esta linha de pesquisa pode ser mais recompensadora para todos os envolvidos.
Quando se aprende através da atuação o desempenho torna-se muito melhor. Sabendo que devemos manter sempre em mente o fato de que as necessidades do teatro são o verdadeiro mestre, devemos estar sempre em busca do que é verdadeiro para nós.
O procedimento durante os jogos que usamos deve provocar a espontaneidade do ator , cuidando para não escolher jogos sem fundamentos. Se há nos jogos problemas interessantes a serem resolvidos, mesmo que os atores possuam diferentes níveis de energia, todos permanecerão por um longo tempo na atividade proposta e ao diretor cabe, neste primeiro momento, somente discernir a hora de mudá-la. Parta facilitar, eu utilizo a recomendação dada no livro da Viola Spolin, que é dividir cada ensaio em três partes: jogos (como brincadeiras), movimento criativo (ajudando-os a desenvolver idéias) e cenas (ensaio tecnico).

A atuação natural vem quando o ator tem energia, comunica-se com a platéia, é capaz de desenvolver uma personagem, relaciona-se com os demais atores e tem sentido do ritmo e do tempo. Isso tudo deve vir não com imposição de “técnicas”, porém com uma apresentação dos problemas de atuação de maneira que esse comportamento no palco aconteça por si mesmo, do interior do ator, lembrando que ensaios padronizados, fórmulas e conceitos são próprios de imposição e não de liberdade. A pesquisa autoritária, na minha opinião, paralisa os atores e seca a essência da inspiração e criação. A criatividade deve ser mais que variação de formas, deve ser uma atitude, uma maneira de pensar, curiosidade, alegria e comunhão, que deve ser conquistada a cada ensaio. Mesmo conhecendo todas as vantagens que este método oferece, ainda há receio de deixarmos os padrões convencionais de pensamento e ação na criação das personagens, quando damos esta liberdade, arranjando algum jeito de impor autoridade com medo de alguma falta por meio dos atores. A verdade é que a liberdade criativa depende da disciplina de cada um, mas se a disciplina for imposta por um diretor, ela vai inibir e provocar rebeldia, será algo negativo para o ensaio. Portanto, quando não lutamos por uma posição de autoridade e sim damos uma escolha livre por amor à atividade, ocorre a verdadeira ação criativa. Com imaginação e dedicação as regras das dinâmicas serão bem compreendidas e aceitas com facilidade. Será como quando os atores reaprendem a brincar, aceitando regras, penalidades e restrições, assim como na infância. Dessa maneira, grande parte de seu potencial será usado, desenvolvendo seu senso social e talento individual que foram resgatados. O barulho que surge durante ensaios criativos é inevitavel mas mostra que na verdade a liberdade da descoberta foi encontarda.

Cada ator tem o seu tempo. Mesmo com alguma pesquisa feita anteriormente, não se pode exigir mais do que cada um poderá dar naquele momento de descoberta, nem se pode permitir que haja pouco empenho por parte de cada um, é um equilíbrio que nossa Cia pretende entender desde o inicio. Toda peça de teatro conta uma história. Ao comparar o teatro para crianças com quando a mamãe lê uma história para as crianças devemos buscar formas novas de contar esta história ou introduzir a idéia de mostrar e não contar. Sempre em busca de algo mais verdadeiro, o mais próximo possível da dinâmica que as crianças usam para criar suas brincadeiras seguimos nos primeiro ensaios. Buscar algo perdido em nós, que nem sempre é agradável, nos possibilita uma infinidade de novas pesquisas e descobertas. Os resultados não serão imediatos nos ensaios, pois leva tempo para se desprender da velha idéia de se representar crianças no palco, mas vale à pena. É no que acredito em nosso inicio de trabalho com o “Era uma vez outra história”, e é o que espero alcançar com a familia Sinos até nossa data de estréia.

Gisele Bauer - Big
Diretora Geral


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