terça-feira, 12 de julho de 2011

Uma expressão de Viegas!

Um teatro vivo e propositivo

 

Viegas Fernandes da Costa


Ainda que constatada a absurda falta de investimos públicos no desenvolvimento de atividades artístico-culturais em Blumenau, bem como a ausência de uma política clara definida para a área, sazonalmente a cidade é palco de interessantes experiências no campo do Teatro. Experiências que parecem ter atingido uma certa maturidade no transcorrer desta primeira década do século XXI, em que se percebe uma diversificação de linguagens dramatúrgicas, uma maior organização e profissionalização do s
etor e a constituição de um público constante para os espetáculos. Realidade conquistada, fruto portanto de uma história com muitos altos e baixos e que não se iniciou ontem.
É preciso que destaquemos algumas iniciativas que contribuiram para que o cenário teatral blumenauense alcançasse o patamar em que se encontra hoje. Em primeiro lugar, chamar a atenção para o Núcleo de Teatro Experimental (Nute) do Teatro Carlos Gomes, que teve importante atuação no cenário artístico-cultural da cidade, notadamente nas décadas de 1980 e 90, seja através dos Jogos de Teatro (onde toda cadeia da produção teatral – do texto à representação – era estimulada através de competições que premiavam peças de curta duração, concebidas e montadas em intervalos de poucas horas), seja através dos cursos de Teatro e da apresentação das peças produzidas pela escola. Muitos dos atores, diretores e público que atualmente frequentam o cenário artístico do Vale do Itajaí, formaram-se nas atividades desenvolvidas a partir do Nute.
Outra importante iniciativa na história do Teatro em nossa região foi a criação, em 1987, do Festival Universitário de Teatro de Blumenau (atualmente internacionalizado). O Fitub, como hoje é conhecido, sempre contribuiu para o intercâmbio de experiências dramatúrgicas entre grupos universitários do Brasil e exterior. Com sua periodicidade anual (exceção para 2009, ano em que o Festival não se realizou por decisão da então Reitoria da FURB), e sua maratona de peças, debates e atividades correlatas, o Festival sempre proporcionou um espaço privilegiado de exibição da produção teatral universitária e, principalmente, de troca de experiências por meio do exercício da análise e da crítica. Também não há dúvidas quanto à contribuição do Fitub para a formação de plateias, elemento central para o desenvolvimento de toda cadeia produtiva que atua no entorno desta atividade artística. Segundo dados oficiais publicados pela organização do Festival, em 2010 o público que assistiu às peças totalizou 23 mil espectadores. Este número demonstra o crescimento e importância deste evento que, em sua primeira edição, reuniu 5 mil espectadores. Evento que devide sua importância e significado com o Festival Nacional de Teatro Infantil (Fenatib), promovido pela Fundação Cultural de Blumenau e que neste ano chega a sua 15ª edição. Fitub e Finatib são as duas faces de uma importante estratégia de fomento da economia criativa em nossa região, mas que infelizmente carecem da atenção pública devida. Ainda assim sobrevivem e são fortemente responsáveis pelo espaço que o teatro vem ocupando no cenário cultural do Vale do Itajaí.
Também a criação em 2004 do curso superior de Bacharelado em Artes Cênicas pela Universidade Regional de Blumenau, e do surgimento, há quinze anos, da Companhia Carona de Teatro (que funciona como escola de teatro do Teatro Carlos Gomes – ocupando um espaço anteriormente representado pelo Nute – e como companhia de teatro), concorreram para a profissionalização de atores e para o exercício da produção teatral na região. Muitos dos protagonistas que frequentam os “palcos” blumenauenses são oriundos destas duas escolas de teatro (Furb e Carona) que, vale lembrar, não são as únicas. A região dispõe ainda de outros espaços de formação para as artes cênicas, como é o caso do Espaço Plural, e diversas companhias e grupos de teatro em atividade.
Quando dissemos, no início deste texto, que o setor das artes cênicas atingiu um certo nível de maturidade em Blumenau, a afirmação não se refere exclusivamente ao campo artístico, mas também ao político. Dentre todos os setores artísticos da cidade, o do teatro é o que apresenta melhor organização e atuação política. Há, inclusive, uma associação que representa os interesses do segmento. Criada em 2010, a ABLUTEATRO reúne diversos grupos da região, e compreende a categoria enquanto classe, conforme definição que consta do Artigo 1º do seu Estatuto Social: “é uma associação civil sem fins lucrativos, congregando grupos, artistas, produtores e trabalhadores culturais da área de Teatro(...)”. Ao entender os profissionais do Teatro enquanto trabalhadores, a ABLUTEATRO qualifica o debate artístico local, sempre tão atrelado ao diletantismo, exigindo que a categoria seja reconhecida e respeitada como mão-de-obra qualificada no campo da economia criativa. Cabe a esta associação contribuir também com a organização da Temporada Blumenauense de Teatro, que mensalmente estreia montagens desses grupos, apresentadas a preços populares, e tornando a produção local acessível e reconhecida pelo público. Desde 2005, ano em que a Temporada foi criada, houve a consolidação de uma plateia que, paulatinamente, vem se diversificando.
Sabemos, entretanto, que maturidade não significa estar pronto, tampouco carecer de dificuldades. Se por um lado os grupos blumenauenses produzem montagens de grande apuro técnico e sensibilidade artística, por outro lado a Temporada Blumenauense de Teatro também traz à cena alguns trabalhos dramaturgicamente muito frágeis. Constatação que está longe de causar estranheza em um processo de construção; afinal, a maturidade do cenário local está na capacidade de assumir os riscos do novo, e não quando da tentativa de seguir fórmulas tradicionais. São justamente as propostas de maior ousadia aquelas que melhor dialogam com o público e acabam por ultrapassar algumas fronteiras, inclusive as geográficas, alcançando públicos de outros municípios e estados.
Por fim, vale lembrar que dentre as dificuldades que o segmento das artes cênicas enfrenta em Blumenau, para além da ausência de políticas culturais como um todo, e da crítica de arte especializada, está a inexistência de espaços públicos adequados para a exibição das montagens, haja visto o Teatro Carlos Gomes, único teatro realmente estruturado da cidade, constituir-se como um espaço privado, e os auditórios da Fundação Cultural apresentarem uma estrutura decadente e que não atende às necessidades técnicas mínimas para a apresentação de espetáculos com formatos mais exigentes. Ainda assim, ressalvadas todas as dificuldades, o Teatro em Blumenau mantém-se vivo e propositivo, promovendo diálogos e provocando as estruturas da cidade.

* Artigo originalmente publicado no jornal Expressão Universitária, julho de 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

CONTATOS: sinosciadeteatro@gmail.com (47) 9111-2798 Gisele (47) 9972-0366 Victor